Portugueses aceitam trabalhar mais pelo mesmo dinheiro
Por Sérgio Aníbal/Público
Maioria dos inquiridos está disponível para fazer sacrifícios pessoais para ajudar o país a sair da crise. Mas são poucos os que aceitam cortes salariais.
Trabalhar mais tempo e ficar com os salários congelados: é isto o que os portugueses, ao fim de quase uma década de estagnação económica e de contenção orçamental, têm para oferecer ao país para sair da crise. O estudo realizado pela Intercampus para o PÚBLICO revela que o receio de que Portugal possa entrar numa situação de falência técnica está presente no espírito da maior parte da população e que também uma maioria está disponível para fazer sacrifícios pessoais. No entanto, muito poucos são os que aceitam medidas mais drásticas como a redução dos salários ou a subida dos impostos para melhorar a situação.Os mais jovens são de longe os mais pessimistas relativamente à sustentabilidade da situação financeira do País. A subida do défice público para 9,3 por cento em 2009 e o agravamento das taxas de juro exigidas pelos mercados para emprestar dinheiro ao Estado português fazem com que, neste momento, um pouco mais de metade dos portugueses acredite que há riscos de que Portugal entre em falência técnica e que seja incapaz de cumprir as suas obrigações com o estrangeiro. Entre a população com uma idade entre os 18 e os 34 anos, essa percentagem sobe para uns mais impressionantes 66,5 por cento.Perante estes números, o que é que cada um está disposto a fazer? Algum tipo de sacrifício pessoal? Mais uma vez, um pouco mais de metade da população (54,7 por cento) diz estar disponível para ajudar. Mas aqui, os mais velhos - os que menos pessimistas estão em relação à situação do país - mostram ser mais altruístas que os mais novos - os mais preocupados. Os trabalhadores do sector privado também revelam estar mais disponíveis para sacrifícios do que os trabalhadores do sector público, respectivamente. Um resultado que pode estar relacionado com o facto de, desde 2003, terem sido os funcionários públicos os alvos das principais medidas de contenção orçamental, como a redução dos salários reais ou a alteração das regras de progressão na carreira. Em contraponto, a crise tem afectado os trabalhadores do sector privado especialmente através da subida do desemprego.Não à subida de impostosMesmo aqueles que estão disponíveis para sacrifícios pessoais, recusam, na sua grande maioria, medidas drásticas como os cortes salariais ou a subida de impostos. Foi pedido aos inquiridos que aceitaram fazer sacrifícios pessoais que escolhessem qual a forma ajuda que preferem dar. A hipótese mais escolhida (por 28,5 por cento) foi a de trabalhar mais tempo. Apesar de, em média, os horários de trabalho terem vindo a diminuir nas duas últimas décadas, os portugueses continuam a estar entre os povos da Europa que mais horas trabalham. O problema do baixo nível da riqueza do país não está, concordam os economistas, no volume de trabalho realizado, mas sim na produtividade. Já no que diz respeito a um eventual aumento do período de vida activa, esta disponibilidade revelada por um número considerável de inquiridos para trabalhar mais, poderia fazer pensar que Portugal avançará, como está a acontecer em outros países europeus, ponderar uma subida da idade de reforma, actualmente situada nos 65 anos. No entanto, o Governo já garantiu que, para assegurar a sustentabilidade da Segurança Social, já foram tomadas as medidas necessárias, não sendo preciso estar a tomar agora uma medida desse tipo.Além de trabalhar mais, o que os portugueses mais admitem fazer é manter os actuais salários, com 27 por cento das respostas a apontar nesse sentido. A verdade é que, independentemente desta vontade, a realidade é que serão muitos os que, este ano, irão passar por esta situação. Por um lado, o Governo já anunciou que para os funcionários públicos e para parte dos trabalhadores das empresas públicas o aumento salarial será de zero este ano. Por outro, nas empresas do sector privado, o cenário é em muitos casos de subidas salariais que não superam a taxa de inflação prevista de 0,8 por cento.E quanto a medidas mais drásticas, ao estilo do que países como a Grécia, Irlanda e Espanha estão a realizar. Entre os que estão dispostos a fazer sacrifícios, 14,7 por cento diz que aceita reduzir salários, enquanto um pouco menos (12,8 por cento) estão dispostos a pagar mais impostos. O Governo também já garantiu que, no Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) que irá entregar a Bruxelas, nenhuma destas medidas estará presente. Além disso, reduzir despesas, cortar os subsídios de férias e de Natal ou reduzir a pensão de reforma são ideias pouco populares entre os que se dizem dispostos a ajudar o país a resolver a crise financeira em que se encontra.Ricos que paguem a criseE, para além da ajuda pessoal, a quem é que devem ser pedidos mais sacrifícios? Aí não existem grandes dúvidas. São três os grandes visados: políticos, directores de grandes empresas e banqueiros são escolhidos por um grande número de inquiridos quando lhes é pedido para nomear três profissões que devem ficar sujeitas a mais sacrifícios. Todas elas são opções de mais de dois terços da população. Já bastante mais longe, com 24 por cento das escolhas, vêm os juízes, enquanto os advogados se ficam pelos 15,8 por cento. Os funcionários públicos são a escolha de 13,9 por cento da população. Este número baixa para 7,9 por cento quando são os próprios a responder. E, claro, também sem surpresas, são os trabalhadores do Estado que de forma mais veemente dizem que devem ser os políticos a fazer os mais sacrifícios.http://jornal.publico.clix.pt/notici...o-18925581.htm
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